A Psicologia da catástrofe: o porquê de estarmos a salvar os nossos bens, mas não uns aos outros
“Em situações como esta, os passageiros experienciam duas emoções extremas: medo da morte, e incerteza. Eles estão apenas a tentar sobreviver, mesmo quando estão a agir irracionalmente,” partilhou com a Skycop a especialista em psicologia aeronáutica, Rosita Kanapeckaite, sobre o trágico acidente da Aeroflot. Os meios de comunicação e as redes sociais estão cheias de imagens chocantes de passageiros a abandonar o avião com os seus pertences, portanto não é surpresa nenhuma até que alguém os comece a culpar. Mas Rosita Kanapeckaite, Psicóloga e Professora no Instituto de Aviação Antanas Gustaitis de Vilnius da Universidade Técnica de Gediminas, sugere que observemos com mais pormenor a natureza humana e as ações da tripulação antes e fazer julgamentos rápidos.
- 2019-05-10
- 11:00 AM GMT
As pessoas não estavam a pegar na sua bagagem – Os seus instintos é que estavam.
Mais de 40 pessoas morreram na sequência de um incêndio durante a aterragem de um avião russo, pertencente à companhia Aeroflot, no Aeroporto Internacional de Moscovo-Sheremetievo neste último domingo. Os sobreviventes foram apanhados por uma câmara a abandoar o avião com os seus bens pessoais. A questão que se levantou: porque é que os passageiros estavam a salvar a sua bagagem e por consequência a obstruir a saída de emergência em vez de se ajudarem uns aos outros?
Mas Rosita Kanapeckaite não tem reposta. “Alguns estavam apenas a imitar outros passageiros. Eu acredito que ninguém tivesse pensado na sua camisola caríssima e que isso é que devia ter sido salvo. Em circunstâncias extremas como esta, o nosso cérebro funciona de uma forma muito diferente. O instinto diz-nos para lutar, correr, ou paralisar. Não há tempo e recursos para pensar de forma diferente,” diz a especialista.
A psicóloga sugere analisar as ações da tripulação, não dos passageiros. “Procurar os culpados é a forma de lidar com a tragédia, mas não altera nada. O instinto de sobrevivência está na base da natureza humana; mesmo se voarmos num avião, nós ainda retemos na nossa gênese o velho hábito que voar é para os pássaros. Os tempos mudam, as pessoas viajam cada vez mais, mas a nossa natureza permanece igual. É por isto que tem de ser a tripulação a liderar o caminho – eles estão treinados para por de lado todos os instintos.”
Cada vez mais pessoas estão a salvar a sua bagagem. Porquê?
De acordo com o New York Times, os passageiros de avião que insistem em ter os seus bens nos compartimentos que se encontram por cima da sua cabeça, estão a preocupar as tripulações, que têm como função evacuar o avião rapidamente sem problemas, quando alguma situação de emergência acontece.
Um jornal Americano citou Sara Nelson, Presidente do Sindicato Association of Flight Attendants-CWA, que diz: “Nós temos vindo a assistir a vários incidentes com passageiros a tentar salvar a sua bagagem em situações de emergência.”
A Psicologa Kanapeckaite acrescenta ainda que viajar de avião é um tipo de stress diferente e que o medo de voar é uma das fobias mais comuns. “Está relacionado com a perceção de perder o controlo da situação. Além disso, alguns passageiros experienciam claustrofobia, sentem-se stressados por estarem num espaço pequeno e fechado, rodeados de desconhecidos. Isto pode causar ansiedade e ações irracionais,” afirma a psicóloga.
Treinar para lidar com acidente, não é o seu trabalho
Existem algumas dicas que ajudam a lidar com situações inesperadas. Vestir roupa prática e evitar materiais inflamáveis, como nylon e poliéster, pode salvar a sua vida. Para além disso, se os seus instintos dizem para correr faça-o com sapatos apropriados. Saltos altos e chinelos são as piores escolhas. O melhor que pode fazer é escutar cuidadosamente, e seguir as instruções de segurança, que não são algo para guardar no banco da frente, sem sequer consultar.
“Mas a preparação para acidentes não é responsabilidade dos passageiros. Pilotos e comissários de bordo devem ser devidamente treinados para agir, tendo em conta que as pessoas os têm como exemplo. Se viaja duas vezes por ano de férias, não se irá treinar a si próprio para situações extremas. Simplesmente não espera que aconteçam”, afirma Mrs. Kanapeckaite.
Voos atrasados, cancelados ou com overbooking também podem causar muito stress. Mas em casos como estes, direitos dos passageiros aéreos são protegidos pelo Regulamento (EC) 261/2004. Esta regulamentação exige direitos comuns para compensação – e é aqui onde a Skycop entra em ação.