A Caixa Negra: O assédio, os abusos e as agressões sexuais a 10 mil metros de altitude

Nos últimos anos, o número de casos de ataques sexuais em pleno ar tem aumentado. De acordo com o FBI, o número de casos de abuso sexual na aviação aumentou em 66%, entre 2014 e 2017, passando de 38 casos por ano, para 63. Infelizmente, este não é o número real de incidentes. O Bureau of Justice Statistics estima que cerca de 75% (189 casos) das agressões sexuais não chegam a ser reportadas. Por sua vez, pensa-se que os casos de má conduta sexual nos aviões, na sua generalidade, também não são notificados.

Infelizmente, há muito pouca informação sobre a agressão sexual na aviação europeia e em Portugal. No entanto, sabe-se que foram registados cerca de 215 000 crimes sexuais violentos pela polícia na União Europeia (UE) em 2015, e cerca de 2 158 casos de 2013 a 2016, mas os dados sobre quantas dessas agressões ocorreram em voos, se existirem, não estão disponíveis. Com números como estes, seria errado pensar que os passageiros e comissários de bordo na Europa não sofrem agressões sexuais ou abusos. A principal questão é: porque é que não há estatísticas sobre o assunto e porque é que ninguém está a questionar este facto?

A maioria dos agressores saem dos voos sem quaisquer consequências pelo seu comportamento e são mais propensos a ofender novamente, pois esperam o mesmo resultado. As vítimas de assédio sexual não devem ter medo ou vergonha de falar para impedir que os responsáveis continuem a sua onda de crimes.

O agente especial David Gates, que trabalha no Aeroporto Internacional de Los Angeles (LAX) e investiga regularmente este tipo de casos, afirma que “existem várias precauções que podem ser tomadas para evitar a agressão sexual durante um voo. Confie no seu instinto, pois os transgressores costumam testar as suas vítimas, por vezes, fingindo que se encostam para ver como reagem ou se acorda. Se ocorrer tal comportamento, repreenda imediatamente a pessoa e considere pedir para trocar de lugar. Se estiver a organizar uma viagem para uma criança sem uma pessoa responsável, tente reservar um lugar no corredor para que a tripulação possa vigiá-la de perto”.

Gates esclarece ainda que “no caso de algo acontecer, informe de imediato a tripulação de voo e peça-lhes para registar a identidade do agressor e comunicar o incidente. Os comissários de bordo e os capitães representam a autoridade no avião.”

Normalmente, as agressões acontecem durante voos noturnos de longa duração e atingem mulheres e crianças sentadas nos lugares do meio ou da janela. A agressão varia normalmente desde observações impróprias, toques “acidentais”, chegando mesmo a atingir situações mais graves.

As viagens de avião são conhecidas por serem dos modos de transporte mais seguros. De acordo com um relatório de Northwestern University, U.S., voar é 6 vezes mais seguro que viajar de comboio, 100 vezes mais seguro do que viajar de carro e mais de 3000 vezes mais seguro do que andar de mota. Estas estatísticas alienadas ao design dos aviões – espaço apertado com dezenas ou mesmo centenas de outros passageiros à sua volta – levam as pessoas a sentirem-se mais seguras: afinal, nada de mal poderia acontecer com tantas potenciais testemunhas por perto.

Em solidariedade com o movimento #metoo e em comemoração com o International White Ribbon Day, a Skycop está a analisar uma das formas de violência contra as mulheres – assédio sexual na aviação. Com o crescimento das redes sociais, mais e mais casos de agressão sexual na aviação estão a ser divulgados, e este assunto desperta atenção sobre outra temática relacionada – a falta de formação. Embora as companhias aéreas afirmem que as equipas são treinadas para responder a várias situações de abusos – incluindo casos sexuais.

Em 2017, foi realizado um inquérito a quase 2 0000 tripulantes pela Associação de Tripulantes CWA (AFA-CWA). A maioria dos entrevistados revelou que não há uma formação específica sobre como lidar com situações tão delicadas. Os participantes tendem a tratar a agressão sexual da mesma forma que tratariam qualquer situação de agressão entre dois passageiros, quando na realidade, uma conduta indevida de cariz sexual é muito mais complicada do que uma mera discussão ou agressão. Assim, talvez a falta de confiança na tripulação possa ser um dos motivos pelos quais os casos de agressão sexual não são denunciados.

E enquanto apenas algumas das agressões sexuais relacionadas a passageiros são abordadas, os números de assédio a membros da tripulação são ainda mais chocantes. No início de 2018, a AFA realizou uma pesquisa que revelou que 68% dos comissários de bordo nos EUA sofreram assédio sexual durante as suas carreiras profissionais. O assédio variava de comentários inconvenientes, a toques nas suas áreas íntimas, abraços, beijos ou até mesmo sexo. A pesquisa revelou que a maioria dos comissários de bordo optou por evitar mais interação ou ignorar o agressor, e apenas 7% relataram assédio sexual aos seus superiores. As razões para reter a informação variam entre a falta de tempo ou falta de vontade suficiente para passar pelo incómodo, na esperança de nunca mais ver a pessoa, de ter medo de perder o emprego.

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